17 de agosto de 2011

A História Que Separou o Brasil da América Latina

Ultimamente temos visto uma enorme crescente de publicações sobre história, política e diversos outros campos que se esbarram nos citados. No entanto, percebe-se a precariedade e irregularidade quando o assunto é América Latina. Talvez por influência do meio externo, ou até pela sociedade brasileira não se sentir pertencente ao grupo latino. É fato de se constatar a existência de uma modesta, porém efetiva, discriminação cultural advinda dos brasileiros para com os nossos vizinhos.
O fato disso é a análise de publicações, com relativo sucesso, de “Montailou, Povoado Occitânico de 1294 a 1324” de Leroy Ladurie, mas “Los Grandes Mmomentos Del indigenismo em México” de Luís Villoro, continua desconhecido por grande parte do público brasileiro.

Por que essa extensa bibliografia, em suma uma verdadeira babação de ovo em cima da revolução francesa, enquanto não sabemos absolutamente nada sobre a revolução mexicana?

Essas indagações não são tendenciosas a quaisquer discriminação da importância relativa ao casos europeus, seja eles quais forem. Os acontecimentos, de forma geral, são de extrema importância. O caso é a importância desigual dada aos fatos, desde o ensino escolar brasileiro, quando na verdade, nossas características de base, vão de encontro muito maior com nossos vizinhos latino americanos.

Uma explicação dada pela professora da USP e escritora da Folha de São Paulo, Maria Prado, explica que isso se dá ao fato do Brasil apresentar uma característica eurocêntrica, responsável, portanto, pelo fato do país estar voltado para a Europa e de costas para a América Latina.

A análise pode ser feita desde a comparação das colonizações portuguesa e espanhola, podendo nos aprofundar numa análise de possibilidades de explicação desta reflexão. A rivalidade histórica das metrópoles fez com que, nosso limite não fosse apenas geográfico, e sim, cultural. As formas distintas de proclamação de independência ajudaram a fortalecer a idéia de diferença ideológica entre Brasil e América Latina. Se por um lado o Brasil foi capaz de manter uma união nacional, as colônias hispânicas possuíram um caráter anárquico, libertino e caótico.

A república brasileira, no entanto, veio a inaugurar uma tentativa de aproximação com seus vizinhos, mesmo que tenha sido uma tentativa tímida. Na primeira metade do século XX foram feitos contatos com intelectuais hispânicos, especialmente com a Argentina, para a publicação de um manual de história de América, de Rocha Pombo.

Somente a partir dos anos 60 esse afastamento volta a diminuir com o contexto hegemônico entre as intelectualidades de esquerda. Um pensamento homogêneo sobre a América Latina pobre, subdesenvolvida, vítima da exploração do imperialismo norte-americano. Um doa grandes sucessos publicados foi “as veias abertas da América Latina” de Eduardo Galeano.

A América Latina passa a ser vista como uma possibilidade de contestação do sistema capitalista, protagonista de uma revolução, seguindo os passos da revolução cubana. E a vitória sandinista em 1979, vem reforçar essa perspectiva.

Com o crescimento de toda agitação e de uma presença forte e marcante da esquerda ascendente nesse momento, a esperança de uma possibilidade de mudança, de um mundo mais justo, equilibrado, sem pobreza e opressão crescem paralelamente. Contudo, todas esses sonhos são abalados com a queda do muro de Berlim. Avançam críticas ao regime cubano dentro da própria esquerda, na Nicarágua é eleito os opositores dos sandinistas - A década de 80, a década perdida. São devastadores, a partir de então, os efeitos da globalização.

Ressurge como grito de desespero a proposta do Mercosul. Ainda que visto apenas como uma parceria econômica, o Mercosul também atinge a esfera cultural. No entanto, ainda existem muitos obstáculos para que se consolide a idéia de uma parceria política, social, econômica e cultural entre os países latino-americanos e o Brasil. Consolidada a idéia de auxílio mútuo, seria capaz a América Latina de contribuir para uma nova construção de sua imagem? A idéia de países pobres, atrasados e ignorantes passariam para consistentes pesquisas e debates intelectuais entre nós mesmos.

Ainda sim, fica no ar uma certeza e uma dúvida colocada pela pesquisadora do ramo Maria Prado. A primeira se refere à constatação de como é difícil pensar a América Latina a partir do Brasil, ainda que sejam evidentes os ricos e férteis resultados que se obteriam, caso perseguíssemos as trilhas abertas pela história comparada. E a indagação que persiste se refere as concretas possibilidades do despertar de um interesse maduro e permanente do público brasileiro em relação a essa outra metade da América Latina, tão próxima e, ao mesmo tempo tão distante.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

PRADO, Maria Ligia Coelho. O vizinho distante, Folha de São Paulo, 2005.

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