9 de agosto de 2011

O 1º de Maio e as Dúvidas dos Trabalhadores - de 1886 Para os Dias de Hoje

1 – História concisa das origens do Primeiro de Maio.

Mais de um milhão de trabalhadores estavam de braços cruzados nos Estados Unidos, principalmente em Chicago. O calendário marcava primeiro de maio de 1886. A greve visava pôr fim à nefasta exploração das fábricas que desgraçava o trabalhador com até 18 horas de trabalhos diários.

O que era uma manifestação pacífica tornou-se um massacre organizado por covardes. Órgãos repressores atacaram trabalhadores de todas as idades. Corpos defuntos iam caindo ao chão, porém nada parecia suficiente para restabelecer a ordem burguesa. A manifestação chegaria ao quarto dia do mês com conflitos entre trabalhadores e policiais. Bombas explodiam e mortos eram feitos em ambos os lados. Enquanto isso, o mesquinho pensamento dos industriais só visava o retorno aos lucros.

Na prisão acabaram os principais líderes do movimento grevista, o qual em Chicago, nesta época, era majoritariamente de influência anarquista. Foram tratados com muito mais severidade que os gangsteres que circulavam pela cidade. Os trabalhadores conscientes eram, para os industriais, os verdadeiros bandidos, criminosos, facínoras.

Para os principais líderes da greve restou-lhes a forca. August Spies, antes de morrer pelas mãos do patronato, por buscar um mundo de justiça, declarou:

"Se com o nosso enforcamento vocês pensam em destruir o movimento operário - este movimento de milhões de seres humilhados, que sofrem na pobreza e na miséria, esperam a redenção – se esta é sua opinião, enforquem-nos. Aqui terão apagado uma faísca, mas lá e acolá, atrás e na frente de vocês, em todas as partes, as chamas crescerão. É um fogo subterrâneo e vocês não poderão apagá-lo!"

Estava corretíssima sua afirmação. A chama dos trabalhadores não fora apagada ali. Em 1888 um congresso decidiu fazer nova greve em primeiro de maio de 1890 para que todas as zonas alcançassem o sonho mais próximo do operariado: “oito horas de trabalho, oito horas de lazer, oito horas de sono!”. A manifestação tomou dimensões internacionais. Outros países aderiram ao movimento grevista que lutava pelos seus direitos recordando os mártires de Chicago.

Com a grande repercussão das manifestações, o Segundo Congresso da Internacional, em Bruxelas, tornou o dia histórico para que todos os trabalhadores usassem-no para festejar suas conquistas, se mobilizar, se solidarizar na busca de seus objetivos. Assim a data se tornou a mais importante e o maior marco para os trabalhadores de todo o mundo.

Fontes:


Germano, Ernesto. Uma breve história sobre o primeiro de maio. http://www.aeel.org.br/artigos/1_maio.htm

2 – Dias de apatia e incerteza. O mais duro golpe na esquerda.

Transladando-nos das origens do primeiro de maio para os dias de hoje percebemos a diferença de mobilização dos trabalhadores, extremamente fragmentados, desiludidos e sem saber o que fazer diante das novas formas tomadas pelo capitalismo.

A conotação de luta e de solidariedade entre os trabalhadores no primeiro de maio foi esvaziada ao máximo e, sem sombra de dúvida, a atual conjuntura retrata o período mais obscuro da história das esquerdas e de maior apatia para os movimentos revolucionários.

Após a queda da URSS, as esquerdas que a tinham como principal guia e exemplo tornaram-se acéfalas. A nova fase do capitalismo, conciliadora e com recursos de manutenção ideológica muito fortes, faz com que grande parte da população mundial tenha a certeza da vitória do sistema, achando que esse consegue superar suas contradições, tornando-se indestrutível.

É de imprescindível importância reabilitar e reorganizar a esquerda. Colocar fim ao sectarismo e à apatia diante do regime neoliberal. Para isso, é preciso trazer o trabalhador de volta ao ápice das lutas de classes, respondendo às suas principais questões e tirando-lhe da alienação promovida pelo sistema.

3 – Breves respostas para as perguntas que atormentam os trabalhadores

A – A luta de classes acabou e o capitalismo saiu vitorioso?

Tenta-se incutir na cabeça dos trabalhadores a derrota das esquerdas, o fim das lutas de classes e a vitória do capitalismo como sistema econômico. Essas são as mais sujas mentiras que se conta ao povo. O professor norte-americano Francis Fukuyama chegou a falar que estávamos vivendo o fim da História.

Não se pode acreditar que o fim e a vitória estão em um sistema econômico que permite o homem explorar o próprio homem, em um sistema que degrada a natureza, que permite a morte de milhões de humanos. O capitalismo continua criando suas contradições e seus coveiros. Nenhum César falaria sobre o fim do Império Romano, nenhum suserano falaria sobre o fim do Sistema Feudal. A elite econômica do mundo negará enquanto puder a inevitável queda do capitalismo por ser um sistema falho, explorador e extremamente cruel.

Os intelectuais lacaios do capital tentam transformar em ciência a vitória desse putrefato mundo em que vivemos. Tentam inclusive dizer que tal mundo é o ideal: repetem tantas vezes que ele é justo e livre que muitos acreditam. Contudo, nossos atos de liberdade são tão escassos que mostram o quanto somos miseráveis por nos contentarmos com tão pouco.

Não podemos acreditar quando dizem que a falência das lutas de classes já virou uma ciência. Os comunistas têm sua própria ciência e mais que ela, tem a sua própria fé. Pautados nela que mudaremos o mundo. Negam nossa vitória, mas nós temos a certeza dela e sabemos que será obtida mais cedo ou mais tarde. Nossa crença deve ser na Revolução e, independente do que a elite nos disser, devemos acreditar em nossos sonhos.

O proletariado tem um mito: A revolução social. Em direção a esse mito se move com uma fé veemente e ativa. A burguesia nega; o proletariado afirma. A inteligência burguesa se entretém em uma crítica racionalista do método, da teoria, da técnica dos revolucionários. Que incompreensão! A força dos revolucionários não está em sua ciência; está em sua fé, em sua paixão, em sua vontade. É uma força religiosa, mística, espiritual. É a força do mito. A emoção revolucionária (...) é uma emoção religiosa. Os motivos religiosos se transferiram do céu para a terra. Não são divinos, são humanos, são sociais. (José Carlos Mariategui. “El hombre y el mito”. Textos Básicos, Lima, Fondo De Cultura Económica, 1991, pág.10.)

B – O fim da União Soviética mostrou que o socialismo não tem como ser colocado em prática?

Muito pelo contrário. A União Soviética e seu fim vieram justamente nos alertar que é preciso aprender com os erros das lideranças socialistas ou ditas socialistas (inclusive aqui em Bauru). A Revolução Russa de 1917 provou o quanto é possível colocar em prática as idéias socialistas, sendo o povo capaz de organizar e liderar uma nação. Os rumos tomados posteriormente pela Revolução, principalmente nos seus anos finais, mostram que ela não seguiu arduamente seus princípios mais radicais, ou seja, o que derrubou a URSS foi o distanciamento que a Revolução tomou da própria Revolução.

Sendo assim, não se devem culpar os comunistas atuais pelos erros da União Soviética. Assim como não se culpam as massas católicas atuais pelas matanças da Inquisição. Assim como não se culpam as massas protestantes atuais pela eliminação de indígenas nos Estados Unidos. Assim como não se culpam os portugueses de hoje pela exploração do Brasil na época colonial...

O povo não deve temer ou duvidar da possibilidade do comunismo. Muito pelo contrário, deve assumí-lo como uma ideologia sua. Uma ideologia que o levará à vitória e a realização de suas vontades.

Os comunistas recusam-se a ocultar suas opiniões. Declaram abertamente que seus objetivos só podem ser alcançados com a derrubada violenta de toda ordem social até aqui existente. Que as classes dominantes tremam diante de uma revolução comunista. Os proletários nada têm a perder nela a não ser suas correntes. Têm um mundo a ganhar. (Marx e Engels. Manifesto Comunista)

C – Qual é a importância do marxismo hoje?

O marxismo é o principal método dos comunistas, a sua forma de olhar a sociedade e enxergar as contradições. Os franceses autores do Livro Negro do Comunismo apontam a filosofia marxista por si só autoritária. Mais uma das várias mentiras contadas pela ciência elitista. A filosofia marxista tem por fim um mundo sem classes sociais, ou seja, a verdadeira liberdade dos seres humanos. Autoritário é o sistema no qual vivemos hoje, onde um país tem poder de decisão sobre todos os outros, como é o caso do EUA, que sempre foi muito dado a querer apitar as regras do mundo através de sua postura imperialista.

O erro de muitos comunistas diante do marxismo é ter uma visão cega sobre ele. É preciso sempre atualizá-lo para a cultura de cada país e para cada época. Muitos comunistas têm caído no erro de fazer das leituras de Marx e Engels suas únicas fontes de verdade. Inclusive nos anos 30 e 40 foi extremamente comum uma leitura mecânica e dogmática do marxismo. Usar a dialética e refutar tais leituras ortodoxas é obrigação dos atuais comunistas. Incluir na leitura marxista explorados como índios, mulheres e problemas como os da terra não é puro requinte intelectual, é obrigação da esquerda.

Tenta-se transformar o marxismo em simples corrente acadêmica. O marxismo é muito mais que isso. Não se deve limitá-lo ao pedantismo das universidades. Deve ser práxis do revolucionário e empregado no seu cotidiano. Revisto e adaptado para que se possa, ainda hoje, atingir a vitória dos explorados.

D – A minha religião atrapalha o meu engajamento e me transforma em figura alienada?

O que atrapalha e não pode ser tolerado pelo movimento comunista local é a apatia. O problema não está na religião e sim em seu uso como ópio para tirar um posicionamento crítico e combativo das pessoas. Porém nem só a religião faz isso. O sentimento frígido já esteve até nos que se diziam mais engajados dentro dos movimentos de esquerda. Um exemplo disso foi quando os partidos comunistas aceitaram as áreas de influência e passaram a apoiar regimes burgueses na América Latina. Acreditavam que a conjuntura mostraria o momento certo para a Revolução. Sabemos muito bem que não devemos esperar as mudanças de braços cruzados. Devemos criar as condições para que se forje o ambiente propício para a destruição da ordem capitalista.

É impossível negar que alguns religiosos já foram muito mais ativos no movimento de esquerda que ateus. Oscar Romero, Camilo Torres e Frei Tito são exemplos que deixam esse ponto de vista bem claro. Vale citar também que antes de Marx e Engels as principais correntes de esquerda estavam ligadas a um pensamento religioso. Conclui-se então que não é a presença ou ausência de religião que torna o ser humano apático, mas sim a forma como esta é interpretada.

E – O comunismo quer acabar com o país que amo por ser internacionalista?

Mas quem te falou uma merda dessas, parceiro???Os comunistas acreditam que o mundo não está dividido por países e sim por classes sociais. Ou seja, um camponês brasileiro tem muito mais em comum com um camponês guatemalteco do que com um rico empresário patrício seu.

A intenção dos comunistas não é acabar com os países que as pessoas amam. Muito pelo contrário, é libertar tais países da opressão imperialista e de sua traiçoeira elite nacional. Os comunistas querem entregar o país ao povo, instalando nele um regime socialista. Somente quando todo o mundo se libertar da exploração de classes e quando as culturas regionais não estiverem mais ameaçadas, findar-se-á a necessidade da divisão dos povos em Estados. Para os comunistas esses representam um instrumento da antiga ordem.

F – A luta armada foi derrotada. Como agir num Estado dito democrático?

Ernesto Che Guevara, em seu brilhante livro La Guerra de Guerrillas, diz com grande segurança que é impossível tornar vitoriosa a luta armada socialista em países que tenham eleito seus governantes através do voto ou onde estes tenham sido legitimados. Sendo assim, dentro de uma ótica guevarista, a luta armada é um recurso para ser usado em épocas de golpes de Estado, como o período militar da América Latina, por exemplo.

Isso não significará jamais a impossibilidade de atuar dentro da atual conjuntura. Vivemos uma fase em que o povo tem sido novamente afastado dos meios políticos, perdendo por completo sua consciência transformadora. A função dos comunistas atuais é levar até as massas a retomada da práxis revolucionária, promovendo a politização da população.

Os comunistas devem ser incansáveis e extremamente crentes na possibilidade de despertar a consciência transformadora dentro de cada um. Têm por obrigação uma atuação de grande versatilidade, levando palavras de fé na vitória dos povos para todos os espaços onde conseguir ser ouvido: praças, escolas, reaprtições, faculdades, igrejas etc.. Aquele que se diz comunista não pode ser portador de derrotismos e apatias, não pode acreditar que jamais lhe darão ouvidos. Ele deve ter convicção ao levar sua palavra de mudança. Somente assim as pessoas compartilharão de suas idéias, unindo-se pela construção de uma nova sociedade.

Nenhum comentário: