8 de agosto de 2011

O Nacionalismo é Válido?

O Nacionalismo é um princípio que defende a unidade do Estado Nacional, onde seus discursos clamam pelo amor à pátria, a defesa dos símbolos nacionais, a tudo que pertencer à nação.

Nacionalismo é o sentimento de íntima vinculação de um grupo humano ao núcleo nacional da coletividade a que pertence. É o princípio político que fundamenta a coesão dos Estados modernos e que legitima sua reivindicação de autoridade. Traduzido para a política mundial, o conceito de nacionalismo implica a identificação do Estado ou nação com o povo -- ou, no mínimo, a necessidade de determinar as fronteiras do Estado segundo princípios étnicos. Numa primeira etapa, o nacionalismo aspira a criar ou consolidar a independência política. Em seguida, busca a afirmação da dignidade nacional no campo internacional, para por último transformar-se em impulso que pode levar a nação a procurar ampliar seu domínio pela força.¹

O primeiro conceito de nação remetia a “coletividade de pessoas que têm a mesma origem étnica e, em geral, falam a mesma língua e possuem uma tradição comum”². Um novo sentido sobre nação viria a surgir após a revolução francesa onde nessa época começaram a surgir movimentos nacionalistas pretendendo a autonomia do Estado, da nação. Esse movimento teve importância nos ideais burgueses para se conseguir apoio popular na luta contra o feudalismo. Surgiria então o conceito liberal de nação; a formação dos Estados-Nações e o desenvolvimento do capitalismo. Esse novo conceito determinava a nação vinculada ao território, já que o Estado agora tinha definições territoriais, almejando a soberania do povo. Mas em qual Estado Nacional o povo é soberano?

Todo dia 7 de setembro, nós brasileiros comemoramos o dia da independência. Mas qual independência se ainda estamos subjugados, não só pelo imperialismo estadunidense, mas também, pelos nossos governantes e pela elite econômica do país? Isso nos faz perceber que a unidade que buscam os movimentos nacionalistas não existe e nunca existirá, pois dois fatores estão implicados nessa inviabilidade de união que são ignorados. As identidades étnicas e culturais e a luta de classes.

Esses dois fatores são extremamente importantes para entendermos a sociedade complexa na qual vivemos e quais rumos tomar para que o povo alcance a sua soberania. O primeiro fator é muito claro no nosso país, pois possuímos uma diversidade cultural e étnica muito grande mas, a maioria desses grupos culturais são discriminados como é o caso do índio, dos negros, do sertanejo etc. O segundo fator, a estratificação da nossa sociedade em classes e, que engloba o primeiro, acompanha o ser humano desde o princípio de sua história e a sua existência é determinante para que a soberania dos povos esteja ameaçada.

Nós não nascemos com as identidades nacionais, elas “são formadas e transformadas no interior da representação”3. Porém, tal sentimento de identidade nacional torna-se contraditório devido à esses fatores, pois, tal unidade inexiste. E jamais poderá existir enquanto não se tiver a consciência de que pessoas exploram o trabalho de uma maioria da mesma nação ou de povos de outras nacionalidades. Como pode existir soberania do povo se o Estado que serviria para garantir os seus direitos está nas mãos de uma elite? Garantir a autodeterminação estaria implicado em termos a independência sobre outras nações ou também sobre aqueles que lucram com o trabalho do povo? A estrutura do atual sistema não permite que se tenha essa soberania e os movimentos nacionalistas que dizem almejar tal liberdade, ou são incapazes de entender a realidade ou apenas existem para manter a alienação da sociedade.

Os Estados Nacionais são como empresas que existem para competir no mercado mundial uns com os outros. Os EUA se desenvolveram fortalecendo esse Estado e hoje controlam a economia mundial, mas para tal desenvolvimento foi preciso esmagar a economia de países que haviam acabado de sair da condição de colônias, como no caso dos países latinos, para garantir uma estrutura ao seu povo. O bem-estar de uma sociedade tem um custo elevado e até países como Suíça, Holanda, Suécia, entre outros, necessitam que suas empresas se expandam pelo mundo em busca de mão de obra barata para poderem continuar suportando o bem-estar de sua sociedade.

Com a atual estrutura do nosso sistema, não seria diferente com o Brasil. O nazismo possuía um discurso nacionalista contra o liberalismo, mas ao fortalecer a sua economia, mantendo as elites econômicas do país, viu-se que o liberalismo que eles eram “contra”, agora era a política da Alemanha de fortalecimento do Estado Nacional, subjugando, assim, outros povos. Com o avanço do imperialismo estadunidense, esse nacionalismo se redescobre na Europa e na América Latina, mantendo o mesmo discurso, mas que nas vias concretas cometem os mesmos erros. Enquanto houver a supervalorização de uma nação sobre a outra, de uma classe sobre a outra, a soberania popular será utopia. Marx já dizia: “uma nação deve e pode aprender das outras”4.

Os povos devem lutar pela sua autodeterminação, mas somente a conseguirão quando as lutas de classes forem enxergadas e eliminadas. Temos que redescobrir o conceito de nação, pois nesse conceito deve estar embutido que a finalidade de uma nação é objetivo comum que seus integrantes possuem, no entanto, trabalhadores e patrões não poderiam pertencer à mesma nação se possuem objetivos tão distintos. O segundo almeja o lucro e para isso explora o primeiro, portanto, não há soberania alguma. Do que adianta a independência econômica se o povo ainda é dependente da elite da economia nacional? Quando o nacionalismo é válido? É válido quando a independência econômica seja não da elite, mas de todo o povo e que esse não subjugue as outras nações e contribua para que essas também alcancem a sua liberdade.
NOTAS

1 - Sítio: Pausa para a Filosofia (http://www.pfilosofia.pop.com.br/07_leituras_cotidianas/) 20040727a_nacionalismo.htm

2 - Hobsbawm 1990, pág. 28.

3 - Stuart Hall 2001, pág. 48.

4 - Marx 1988, pág. 19.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Livros

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade / Stuart Hall; tradução Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro – 6. ed. – Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

HOBSBAWM, Eric J. Nações e nacionalismo desde 1780: programa, mito e realidade / E. J. Hobsbawm; (tradução: Maria Célia Paoli, Anna Maria Quirino). – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.

MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política / Karl Marx; tradução de Regis Barbosa e Flávio R. Kothe. – 3. ed. – São Paulo: Nova Cultural, 1988. (Os Economistas).

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